MODOS DE SER E DESEMPENHO SEXUAL
- semmeiaspalavras
- 26 de jun. de 2020
- 4 min de leitura

Por Júlio Manoel.
O que torna cada pessoa única? Por mais que existam, em Psicologia, variadas formas de se responder a essa questão, qualquer resposta razoável há de consideraras experiências individuais, as variáveis biológicas e os fatores ambientais e sociais.
Há quem diga que comportamento sexual é algo determinado, puramente, pela biologia. Nesse raciocínio, qualquer ação que escape ao mais “frequente na natureza” é considerada uma perversão, a qual seria colocada em ação pelo indivíduo ou por um capricho biológico.
Se assim fosse, como explicar os fetiches e outras formas de “desvios de finalidade” que tanto dão prazer sexual aos seus adeptos? Como explicar que, para muitas pessoas, é muito mais prazeroso assistir a um vídeo pornográfico e se masturbar do que ter uma relação sexual, seja ela dentro ou fora de um relacionamento estável? E qual seria a explicação para um homem ejacular mais rapidamente quando é masturbado por outra pessoa e ejacular em um tempo muito maior quando masturbado por si mesmo?
Quaisquer dessas questões não podem ser respondidas, satisfatoriamente, considerando-se apenas as questões de ordem biológica. Também não são plenamente satisfatórias respostas baseadas na ideia de puro condicionamento das respostas sexuais. Ressalto que, sim, existem condicionamentos comportamentais e variáveis biológicas envolvidas nas variações e nas queixas sexuais; no entanto, para que haja efetividade na compreensão e na ação sobre eventuais problemas, é preciso que a análisese aprofunde ao nível da consideração dos sentidos individuais que essas experiências têm para cada sujeito.E é para atuar nesse nível que precisamos abordar algo mais amplo que a forma como cada pessoa faz sexo e o significado do sexo para a pessoa. É preciso que haja compreensão sobre o modo de ser de cada pessoa.
O que torna cada pessoa única? Por mais que existam, em Psicologia, variadas formas de se responder a essa questão, qualquer resposta razoável há de consideraras experiências individuais, as variáveis biológicas e os fatores ambientais e sociais. É a partir da conjugação de todos esses fatores que se constroem modos de ser, formas únicas de existir que tornam cada pessoa irrepetível no mundo.
E de que jeito esses modos de ser se relacionam com o desempenho sexual? Da mesma maneira que se relacionam a variados desempenhos na vida de uma pessoa: somos seres cujo bom funcionamento parte de um estado de equilíbrio global. Se algo não vai bem no trabalho, por exemplo, é possível que desempenhos externos ao trabalho também sejam prejudicados.Até aqui tudo bem: a maioria das pessoas concorda que, diante a problemas pontuais, outros problemas podem surgir. No entanto, muitas pessoas não se dão conta da relação entre suas formas de ser e os eventuais sintomas físicos e psicológicos que experimentam. Ou seja, não se trata, em muitos casos, de uma relação entre dois problemas, mas uma relação entre a maneira como a pessoa experimenta a vida e o problema do qual se queixa.
Na clínica psicológica, são frequentes frases como “eu sei que tenho outros problemas na vida e que eu teria de adaptar meu jeito para resolvê-los, mas, por agora, quero apenas voltar a ter ereção”. Semelhantemente, já escutei sobre a ejaculação rápida (ou precoce): “é meu único problema sério, o restante eu consigo lidar”.
Quando a pessoa tem crenças como essas, é comum que também acredite em soluções isoladas e duradouras para seus sintomas sexuais. Nesse sentido, sobretudo em relação à ejaculação rápida, sabemos que existem técnicas destinadas ao seu controle direto. No entanto, a efetividade dessas técnicas fica comprometida quando a pessoa não trata a causa de seu problema. Outro ponto problemático é que o homem que “trata” apenas do sintoma sem ocupar-se da causa pode acabar por “trocar” seu sintoma por outro, no futuro. Assim, ansiedade excessiva que hoje provoca a ejaculação precoce, se não for trabalhada em suas causas, pode vir a gerar, outro momento da vida, crises de pânico, por exemplo. Dito isso, para que seja possível agir sobre a base dos problemas, é preciso que a pessoa conheça sua maneira de existir no mundo, o que compreende fatores racionais, emocionais e comportamentais.
Portanto, no tratamento das disfunções sexuais psicogênicas, considero sempre a necessidade de aprofundamento do processo de autoconhecimento, tanto em relação ao funcionamento sexual ao longo da vida como em relação a maneira de relacionamento consigo mesmo e com o outro. Neste ponto não me refiro ao relacionamento interpessoal restrito às pessoas com quem se tem relação sexual. Falo a respeito do sujeito em quaisquer relações humanas. Considero que modos de ser na relação com o outro mostram padrões que podem favorecer ou prejudicar condições necessárias ao ato sexual, tais como a capacidade de confiar, entregar-se, viver o momento de maneira colaborativa, dentre outras expressões de maturidade emocional. Sim, sexo de boa qualidade é para pessoas emocionalmente maduras; do contrário, o sujeito experimenta uma satisfação muitolimitada.
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Sobre Júlio Manoel

Júlio Manoel é Psicólogo (CRP 09/7467), Especialista em Psicologia Clínica e Mestre em Psicologia. Sua prática clínica foca demandas relacionadas à sexualidade e ao desempenho sexual.
Contato: www.psicologopelainternet.com.br
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